terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Economist considera Suíça o melhor país para nascer em 2013

"A Suíça ascendeu ao topo do ranking dos melhores países para nascer, substituindo os Estados Unidos da América, 25 anos depois de ter sido divulgado o estudo original da revista britânica. Portugal está em 30.º lugar."
in Jornal de Negócios

Perguntam-me muitas vezes se cá estou para ficar. Se é aqui que quero criar os meus filhos. E eu vou adiando a resposta porque a verdade é que não tenho a mínima ideia. Não estou emocionalmente presa a este país. A minha permanência aqui deve-se tão e somente à oportunidade de trabalhar na minha área, ao salário bem pago, ao bom nível de vida e ao facto de estar a duas horas e meia de casa, de avião. Não sei quanto tempo ficarei por cá, não tenho um projecto. No dia em que aparecer algo melhor, vou embora. Por isso, e porque não planeio filhos a curto prazo, não posso saber se é aqui que vou querer vê-los crescer.
É claro que, pelo lado racional da ideia, seria sem dúvida bom para eles crescerem num país seguro a todos os níveis. Nunca vão conhecer dificuldades económicas, nunca lhes irá faltar nada, terão certamente muito mais do que aquilo que vão precisar. Vão poder brincar na rua até tarde, caminhar para a escola com os amigos... a probabilidade que algo de mal lhes aconteça é ínfima porque a comunidade protege e vigia as crianças alheias, os automobilistas são meticulosamente cuidadosos e os perigos são controlados ao pormenor. Vão crescer num país onde não deitar lixo para o chão, reciclar ou apanhar o cocó do cãosinho na rua são coisas tão naturais e rotineiras como lavar os dentes.
Mas crescer aqui significa também crescer no modelo de educação suíço. E lamento não conseguir concordar com grande parte do que essa filosofia implica. Senão vejamos: em muitos infantários (não acredito que em todos) as crianças são separadas por salas: suíços para um lado, estrangeiros para o outro. Isto para que o desenvolvimento das crianças suíças não seja afectado pelo atraso das restantes que não falam ainda Alemão ou que falam incorrectamente. Se por um lado, as crianças estrangeiras irão demorar ainda mais a aprender a língua e terão certamente dificuldades quando chegarem à escola, as crianças suíças, por outro, aprenderão logo ao início que a interculturalidade é uma coisa má. Aprenderão a não respeitar as diferenças, e crescerão com o preconceito de que tudo o que é suíço é melhor e tudo o que é estrangeiro é mau.
E todo o sistema de educação está desenhado neste sentido proteccionista e nacionalista. O que certamente não é uma coisa má para o país. Mas é péssimo para a formação de cidadãos, de pessoas no verdadeiro sentido da palavra.
Tenho um colega suíço que me explica  de vez em quando porque todos estes ideais fazem sentido para ele, e que me diz muitas vezes "you love too much".
Mas eu não acho que o amor seja demais. Eu gosto de gostar das pessoas que me rodeiam e de me certificar que elas sabem disso. Eu gosto que as pessoas se sintam queridas e bem-vindas e aceites. I am a people person. E é isso que eu quero que os meus filhos sejam.
De que vale saber separar o vidro do cartão, se eu não souber que pessoas não se colocam em contentores rotulados nem se separam por cores, nacionalidades ou religiões?

5 comentários:

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    1. Não quero generalizar, nem é possível colocar os suíços todos no mesmo "contentor", até porque isso seria ser igualmente preconceituoso, mas existe uma tendência educacional, depois cabe ao indivíduo decidir se é assim que quer pensar.

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  2. Olá.
    Antes de mais parabéns pelo teu blog!
    Nunca tinha ouvido tal coisa dos infantários por aqui.... :(
    Moro aqui há 4 anos e o meu filho frequentou o infantário e agora está no primeiro ano do Kindergarten e nunca sentiu qualquer tipo de discriminação por ser estrangeiro.
    Guida


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    1. Olá Guida, e bem-vinda!
      Como disse acima não quero de todo generalizar. Conheço vários estrangeiros que passaram por esta desagradável situação. Também conheço vários suíços que assumem que é uma prática corrente e que acreditam ser o melhor para o desenvolvimento das suas crianças. Por isso sei que isto é uma situação real, não por experiência própria mas através de vivências de pessoas que me são próximas.
      Claro que a tal separação não acontecerá em todos os lugares nem pode ser generalizada. Penso que também depende da região, em zonas mais internacionais com certeza acontecerá com menos frequência.
      Quanto ao seu filho, ainda bem que não aconteceu, é sinal que o sistema não está totalmente minado! :)

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  3. Nunca pensei que fosse assim, ou que nalgumas partes do país fosse assim.

    É um país sui generis...

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