quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Já vos falei da religião?


Pois é. Aqui quem é religioso paga imposto. E não é pouco. É anual e é bem pesado.
Caso não pretendam ir à missa com regularidade, casar cá pela igreja, mandar os vossos filhos à catequese e coisas que tais, ou resumidamente, caso não sejam praticantes e não queiram "doar" parte do vosso salário à igreja, é melhor não andarem por aí a dizer ao povo que são católicos, ou protestantes, ou qualquer outra das religiões oficiais do país.
Se quando se registarem na Gemeinde vos perguntarem se são religiosos e qual é a vossa religião, não estão apenas a ser curiosos - É PARA VOS FAZER PAGAR, MEUS AMIGOS. Se não estiverem interessados, mais vale dizer que são sikhs.
É que se, como eu, ingenuamente disserem que são católicos, depois já não há como fugir. Eu bem que lá fui dizer que afinal tinha reavaliado a minha fé e já não acreditava em nada, mas levei com um manguito figurativo. Ai queres deixar de pagar? Então arranja uma declaração da tua igreja que comprove que cortaste relações com eles, ou que foste excomungada, ou que eles já não gostam de ti, pronto.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A senhora do catering

O meu colega de equipa e compincha de todos os disparates e asneiras desta vida vai casar na Sexta-feira que vêm. À bela maneira portuguesa (e Grega) eu e a maria-das-dores ainda não tínhamos comprado o presente de casamento. E como estávamos sem tempo e eu não tinha paciência para pensar em nada, assenti à compra de um voucher da empresa de catering do casamento (não perguntem, não faço ideia...).
Ora acontece que a futura esposa do meu compincha é italiana e a empresa de catering é uma coisa assim muito familiar, muito tradicional, muito coiso. Nada de comprar os vouchers pela internet, há que lá ir presencialmente. E assim, hoje à hora do almoço lá fui eu mais a maria-dolorosa à bottega.
Assim que chegámos vimos logo a cena: uma empresa familiar constituída por uma pessoa só: uma senhora italiana roliça e castiça que só ela, daquelas seguríssimas de si e das suas decisões. Que é como quem diz, com a mania que sabem tudo.
A senhora, muito prestável, adiantou-se-nos e anteviu as nossas necessidades (?) e vai de comprar um postal para oferecermos com o voucher ("Ah e tal, se não gostarem não precisam de ficar com ele... mas vão adorar!). Já estava eu toda contente a pensar que me tinha poupado à trabalheira de correr mundo em busca do postal ideal quando a senhora italiana saca duma coisa enorme, brilhante, dourada e multicolor e assim... uma piroseira fenomenal. A coisa piora quando ela, com um sorriso tão ou mais vistoso que o postal, abre o dito cujo e ele começa literalmente a gritar "Can you feel the love tonight... tonight!". Pois.
Durante uns 10 segundos, eu não consegui mover um músculo. Para ali fiquei de boca aberta e só ao fim da terceira cotovelada da maria-dói-me-tudo é que me apercebi que ela me estava a perguntar o que é que eu achava. No canto da sala um casal de provavelmente noivos ria a bandeiras despregadas. E eu, que até ali não tinha tido reacção, já só me apetecia rir que nem uma perdida. A maria-ai-que-estou-tão-mal já se contorcia toda com o riso dissimulado, mas a senhora italiana continuava expectante, esperançosa e a sorrir. E eu não tive coragem para a desiludir. Vai na volta, em vez de dizer que aquilo estava para um casamento como o Zé Castelo Branco para a música (way too much!), lá desencantei que a noiva era bastante discreta e que se calhar não era bem o estilo dela, e que... pois. Não. Desculpas pedidas ainda fui obrigada a enfrentar a cara de desilusão da senhora italiana. Juro que ela quase chorou de desgosto.
De regresso ao escritório, escusado será dizer que passámos a tarde quais Elton-John-sentimentalonas a cantar a plenos pulmões enquanto o meu compincha se queixava de quanto aquela música era horrorosa. E mesmo tendo combinado com a maria-das-maleitas que o episódio só seria contado depois do casamento, claro está que a meio da tarde já eu me tinha desbocado toda.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Encontrei emprego na Suíça, e agora?

Fantástico, conseguiram emprego. Mas então e agora? Abalar assim do nada com a mochila às costas e dinheiro suficiente para lá chegar não é boa ideia. É péssima!
Vir trabalhar para um país como este implica muitos detalhes que podem escapar aos estreantes nestas lides de trabalhar no estrangeiro. Apesar de localizada na Europa, a Suíça não faz parte da União Europeia, pelo que chegar aqui com o cartão de cidadão no bolso não chega para cá ficar.
First things first.
Regra básica quando se vai trabalhar para fora, seja para que país for: Não sair sem contrato de trabalho em circunstância alguma. Se a empresa for fiável e tiver verdadeiro interesse, vai enviar o contrato antes da relocalização da pessoa em causa.
Contrato na mão, o próximo passo é encontrar um sítio para ficar. Se não tiverem a sorte de a empresa que vos contratou vos fornecer alojamento (temporário ou não), têm uma verdadeira odisseia pela frente. Arranjar casa cá é extremamente difícil, principalmente para estrangeiros e especialmente na parte francesa da Suíça. E não contem em conseguir encontrar alguma antes de cá chegar e fazer algumas visitas. O ideal é começar a pesquisa o quanto antes, no homegate.ch ou no comparis.ch e fazer contactos via e-mail / telefone. Preparem-se para passar alguns dias (na melhor das hipóteses) num hotel ou em casa de alguém, porque depois de arranjada a casa ideal e considerando que a vossa candidatura foi aceite (exactamente: existe uma lista de espera e é necessário preencher uma candidatura, para cada casa/apartamento), o processo que se segue não é especialmente célere. Há o contrato para assinar, a papelada para entregar e o pagamento da caução. Normalmente 2 rendas em avanço. E aqui chegamos a outro ponto muito importante a considerar:
Quem se muda para cá tem de ter, inevitavelmente, algum dinheiro de parte para fazer face às despesas que começar uma vida aqui implica.
A caução obrigatória quando se arrenda uma casa é normalmente o mais custoso. Uma renda para um T1 decente fora da cidade ronda os 1500 CHF. Aquando da entrada na casa há que pagar 2 meses de caução + a primeira renda. Façam-lhe as contas.
Depois há as despesas relativas a activações de serviços, registo na Gemeinde (tipo junta de freguesia, muito importante, não esquecer logo que se fixarem numa localidade!), seguros de saúde e por aí em diante.
Convém não esquecer que durante o primeiro mês não haverá salário, e considerando o nível elevado dos preços em geral, sobreviver aqui não é o mesmo que em Portugal.
Para que um cidadão Europeu possa trabalhar na Suíça precisa de um Permit (ou permis en Français). Nada mais que uma licença de trabalho e residência que tem de ser obtida na Gemeinde, apresentando o contrato de trabalho, a morada e algumas fotografias (e possivelmente mais qualquer coisa que não me recordo).
Quanto à saúde, não há cá mimos e segurança social promovida pelo governo. O seguro de saúde é privado, pago por cada indivíduo e obrigatório, e mais nada. É um dos primeiros requerimentos do empregador. Nada de pânico: nos primeiros dias, em caso de emergência e enquanto o seguro não está 100% operacional, podem usar o Cartão Europeu de Seguro de Doença que devem pedir em Portugal logo que saibam que vão sair do país (é que a coisa demora!). O melhor sítio para comparar preços de seguros e entender as mais variadas ofertas e opções é novamente o comparis.ch, o melhor amigo dos estrangeiros!
O empregador pode e deve assistir os seus recém-contratados aquando de uma relocalização. Mais que não seja, fornecendo informações de como e onde procurar o quê, e disponibilizando-se como referência no processo de avaliação de candidaturas para alojamento.
Finalmente, nem tudo são más notícias! Não se preocupem se a mudança para cá implicar falência técnica e quiçá empenhamento até ao tutano. Serão capazes de saldar as dívidas contraídas para o efeito facilmente em dois ou três meses de trabalho!