terça-feira, 24 de julho de 2012

da personagem


Tive em tempos um professor de história que lhe chamava “Mentiroso das Paisagens”. Já o meu pai sempre foi fã e me instigou a ver os seus programas na televisão. Quanto a mim, muito honestamente, nunca foi uma personagem que me despertasse grande interesse. Apesar de me interessar por história, os seus discursos pareciam-me sempre idênticos e demasiado floreados.
Muito se tem falado sobre a vida de José Hermano Saraiva, prinicipalmente recentemente com a notícia da sua morte. A Sábado voltou a dar destaque a uma reportagem que lhe fez em 2006 e eu, que pouco sabia sobre este senhor, resolvi ler. O que encontrei em nada me esclareceu sobre a veracidade e exactidão daquilo que costumava contar. Percebi que foi um homem cultíssimo e inteligente mas muito, muito contraditório e com ideias muito próprias, mas pouco lógicas.
Vejamos a parafernália de contradições que encontrei ao longo da entrevista da Sábado e que passo a transcrever parcialmente (e a comentar, claro está!).

Nesta parte da entrevista falava-se de como o Professor tinha chegado à televisão e sobre o seu primeiro trabalho nesta área:
Quanto ganhou?
Não me lembro. Não os fazia por causa do dinheiro. O dinheiro é importante como limite de sobrevivência. Mas não é por causa dele que se fazem as coisas.

Adiante na entrevista, o Professor é questionado sobre a carreira que seguiu (Direito) e a sua relação com a história:

Qual foi o primeiro livro de história que leu?
A História Universal, de César Cantu (...) Nunca fui um estudante muito bom. Era fracote na matemática, o que alterou a minha vida. Se não fosse isso teria sido arquitecto. De maneira que fui para letras – História e Filosofia. Quando acabei o curso fui para Direito, por perceber que a História era muito interessante mas não dava dinheiro. Passei a acumular o horário de professor de História no Passos Manuel com o lugar de advogado.

Se percebi bem, o senhor não dava grande importância ao dinheiro até porque nem “é por causa dele que se fazem as coisas”. Mas foi por causa do dinheiro que escolheu Direito ao invés da História, apesar de ser “muito interessante”. Boa!

Ainda no tema das contradições, chega mais uma:

Era um pai presente?
Não. Saia de casa de manhã e voltava à noite. (...) Só tive a preocupação de todos fazerem o serviço militar. (...)
Foram para África?
Dois. Um esteve em Cabo Verde como médico militar e o outro em Angola.
Foi despedir-se deles ao aeroporto?
Estava no Brasil. Mas cada um seguiu a sua vida e tudo correu bem.
Considera-se uma pessoa afectuosa?
Até demais. Os sentimentos em mim são muito fortes. Um desgosto dá cabo de mim.

Professor Hermano Saraiva, uma pessoa demasiado afectuosa que faz questão que os filhos vão para a guerra mas não se vai despedir deles ao aeroporto, porque estava fora e cada um seguiu a sua vida. Se morressem na guerra e ele nunca mais os visse, o desgosto dava cabo dele, mas não tem mal.

Quando se discute a sua integração no novo regime político que encontrou quando regressou do Brasil, mais do mesmo:

Integrou-se bem na sociedade democrática?
Não me integrei nem desintegrei. Não sou integrável. (...)
Porque é que depois do 25 de Abril não se voltou a envolver em política?
Porque não estou integrado no regime. Um tipo não pode servir dois senhores. Assentei praça sob uma bandeira e não sou dos que vira a casaca.

Ora pois lá está. Não sou integrável mas não voltei à política porque não me integrei.

Quanto às vincadas teorias do Professor, achei particularmente interessantes as que se seguem.

Como encara as críticas dos outros historiadores às suas afirmações como o famoso “foi aqui, exactamente aqui”?
Eles não perdiam nada em ler o catecismo. Lá diz que a inveja é um pecado mortal.
É só inveja?
É só inveja.
Porquê?
Nenhum legou ao país uma obra histórica com tanto alcance no mundo como eu. Só pode ser inveja.

E quem fala assim não é gago. Eu sou o melhor do Mundo, os outros são paisagem.
Humildade. Ou a falta dela neste caso. Não é um pecado mortal, mas em dose qb traz grandes vantagens na salavação das almas e não fica nada mal.

Hermano Saraiva fez, enquanto Ministro da Educação, parte do governo de Salazar e era um dos grandes defensores das suas virtudes.

Um livro recente diz que afinal Salazar teve várias mulheres...
Tudo mentira. Quando ele estava doente, fui lá e a dona Maria diz-me a chorar: “o senhor doutor nunca mais é ninguém. Durante 40 anos nunca se deixou ver com a barba por fazer agora está para ali deitado, descomposto.” Este homem dava-se a um respeito que não permitia que o vissem com a barba por fazer. Imagine um santo. Um tipo de uma austeridade ascética, quase medieval.

Um homem que nunca traz a barba por fazer é um santo e não pode jamais ter comportamentos desviantes. Está mais que provado que a ausência de barba torna as pessoas mais íntegras, respeitadoras e fiéis! O barbudo do Jesus Cristo devia ser um malandro do pior...

Quando o assunto é política, a lógica da batata continua. Ou votamos nos nossos amigos, mesmo que eles não sejam candidatos dignos da posição a que concorrem e mesmo que consideremos os seus opositores como sendo uma boa escolha, ou então não votamos de todo:

O que acha de Cavaco Silva?
É um homem honesto, bem intencionado e que fez uma campanha modelar. (...)

Votou nele?
Não votei porque era difícil para mim. Sou amigo pessoal do Mário Soares. (...)

Mário Soares não se devia ter candidatado?
Não. Mas só por causa da idade. (...) Por isso é que não fui votar. Não queria votar contra um amigo.

A entrevista vai quase no fim, mas não sem uma importante lição a reter: O que faz de alguém um bom embaixador? Riquíssimos jantares, vinho do Dão e queijos da serra. Candidatos?

Foi um embaixador de muitos croquetes e coquetéis?
Fiz muitos. Mas não era com croquetes. Eram riquíssimos jantares. Adoravam-me por isso. A embaixada estava sempre aberta. Tinha vinho do Dão e queijos da serra.

E pronto, a entrevista da Sábado foi interessantíssima e deu-me a conhecer uma importante figura da nossa história. Se aprendi muito com isso? Não. Se mudei de (ou criei) opinião sobre o Professor José Hermano Saraiva? Também não. Se sou mais uma que nada fde grandioso fez mas que gosta de criticar? Epá até sou. Se detesto o homem e desrespeito o que ele fez em vida. Nada disso, pelo contrário. Mas ri-me um bocadinho. E não poderia deixar de mandar umas postas sobre isso.

A entrevista pode ser lida na íntegra no site da Sábado.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O fim-de-semana no spa...

... ou a comédia que foi antes de lá chegar.
Ora bem, já tínhamos isto marcado há algum tempo, e foi este fim-de-semana que rumámos a Lossburg, uma cidadesinha nas montanhas do Sul da Alemanha.
Saímos na Sexta-feira depois do trabalho (e de eu me estafar a pedalar na bicicleta lá de casa como se não houvesse amanhã) e visto que tínhamos duas horas de caminho pela frente, a dada altura desceu em nós o pior dos demónios da fome e lá tivemos que parar no primeiro lugar que apareceu na auto-estrada: McDonals. Piece of cake, pensei eu. Nem eu nem ninguém fazia ideia do que por aí vinha.
Tínhamos passado a fronteira há uma hora e ainda não tínhamos conseguido levantar Euros e essa foi mais uma das razões porque parámos no Mc. Lá fizemos o pedido e quando vamos para pagar a senhora lá explicou que não aceitavam cartão. Nem francos. Nem que eu lá ficasse a lavar a louça porque eles já tinham máquinas de lavar. E não havia louça de qualquer forma que aquilo é tudo de papel. Bem, lá disse à senhora que então no card, no food, podia bem levar tudo para trás que nós íamos à nossa vidinha, com a nossa fome e os nossos cartões e os nossos francos, comer para outro lado. Muito prestável, a senhora prontificou-se a dar-nos a comida, tal era a nossa cara de fome, e para tal feito heróico apenas precisava de ficar com a minha carta de condução, pagávamos depois de comer e levantar dinheiro na caixa mais próxima. E assim fizemos, totalmente comovidos com a boa acção. O festival começou verdadeiramente depois de termos comido e regressado para pagar. A senhora que tão amavelmente nos tinha recebido não estava, e depois de tentar explicar no meu Alemão fantástico a  três pessoas diferentes o que estava ali a fazer e elas ficarem a olhar para mim como um burro para um palácio, fartei-me e comecei a mandar vir em Inglês. Aliás, começámos os dois. E as senhoras acenavam que não com a cabeça. E as pessoas nas filas riam-se delas, e de nós. E o Roger trabalhava em mímicas elaboradas entre a carta de condução dele (similar à minha) e as notas que tinha na mão. E eu ria-me, cada vez mais, assim qualquer coisa perto do lunático maléfico. E a confusão não acabava. E eu suplicava por alguém que falasse Inglês. E eis que me salta de dentro do balcão uma senhora com um bigode de impor respeito e o peito cheio de ar, afirmando que ela sim, falava Inglês e mais do que isso, compreendia Inglês! Eu, já cedendo ao meu Hulk interior a querer saltar cá para fora, expliquei tudo na linguagem mais básica que consegui: "I eat. No money. NO MONEY. My driving licence here. LIKE THIS ONE. DIFFERENT PHOTO" (e apontava para a minha cara girando o indicador, e de volta para a carta do Roger que tinha na mão). "Now I pay - you give the licence back."
Depois de me avaliar durante dois segundos e meio e ponderar sobre o meu discurso, eis que a senhora do bigode liberta o veredicto final:
"No. Only cash!"
Então não é que esta super entendida em Inglês cismou que eu queria pagar com a carta de condução? É que nem o meu Hulk interior se tinha lembrado de tal proeza. E foi quando eu acertava os últimos detalhes com ele sobre o que fazer àquela gente, que me aparece a senhora que tinha inventado aquele esquema todo, de braço no ar em estilo de super-homem e a transbordar "sorry's" por todos os lados. Lá me deu a carta de volta e fomos embora a correr dali para fora. Uma hora e 200 imitações depois, ainda não tínhamos parado de rir.
O resto do fim-de-semana foi fantástico, mas não sem mais uma peripécia ou outra de se lhe tirar o chapéu. Mas isso eu conto depois.

domingo, 1 de julho de 2012

Europa park

No fim-de-semana passado minha mais do que amiga do coração resolveu finalmente vir visitar-me e andámos por aí a curtir à brava (mentira: eu, para não contrastar com estado em que me tenho encontrado nos últimos meses, estava mais que cansada, com elevadíssimos níveis de stress, e energia, nem vê-la). Detalhes à parte, por entre visitas à cidade e muitas compras (que bem que me soube ter companhia para correr os estaminés da zona!), na Sexta-feira tive a ideia relâmpago brilhante (como todas as minhas ideias relâmpago) de irmos ao Europa-Park. É um parque de diversões na Alemanha, mais propriamente em Rust e a duas horas daqui. Enquanto andávamos no passeio, o meu rapaz convidou mais uma malta e no Sábado aí fomos nós.
Foi absolutamente espectacular. O parque está dividido em várias zonas temáticas correspondentes aos países da Europa e onde supostamente, para além das atracções temáticas, se pode encontrar comida típica dos países em questão. Em Portugal encontrámos sandes de atum ou de fiambre, ou camarões. E nós que íamos tão airosos e decididos a mostrar aos nosso amigos do Brasil e do México que em Portugal é que se comia bem, fomos enxovalhados.
Quanto às atracções, meus amigos, até para uma aficcionada da coisa como eu: aquilo era verdadeiramente assustador. As montanhas russas (várias, várias, várias) desafiam o mais bravo dos bravos, quer pelo seu tamanho, quer pela velocidade ou pela estrutura. Cheguei a temer pelo meu coração e a duvidar da minha sanidade. Valeram-me os bravos que tinha a meu lado e que me faziam ter vergonha de desistir.
As atrações com água são um dos pontos altos do parque, e nós, com aquele calor, saímos de lá encharcados mas gratos.
Muito ficou por ver, o parque é enorme e, verdade seja dita, não chegámos lá propriamente pela aurora nem andámos a correr. O tempo que se perde nas filas também não ajuda, mas o essencial (e mais altamente) ficou visto e experimentado.
Ficam as fotos da aventura.