terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Learn German and you'll win a friend




Not so obvious as it seems. Este texto vai ser sobre a minha professora de Alemão, que é única pessoa com quem realmente me identifiquei desde que cheguei a esta Suíça gelada. Poupando-me a ilusões, é um facto que a maioria das pessoas aqui é distante, fria, muito nacionalista e e pouco acolhedora. Os estrangeiros não são o fruto preferido desta malta, e depois dos primeiros meses deixamos de ser o "shiny new toy" e passamos a ser o estrangeiro que veio para aqui roubar o emprego de um qualquer suíço muito mais capaz. Protegem o que é deles, e fazem muito bem. Mas não nos recebem de braços abertos, e quando, como eu, se vem para ficar, as coisas podem-se complicar um bocadinho. As pessoas com quem me relaciono informalmente são todas estrangeiras. Alemães, Italianos, Portugueses, Espanhóis, Indianos. Os estrangeiros não têm outra opção que não socializar entre si. Quem me conhece bem, sabe que sou muito sociável e não tenho dificuldades em meter conversa com quem me vai aparecendo, mas demoro a fazer amigos e não tenho assim tantos quanto isso. Num país como este, fazer amizades entre os locais é um caso perdido. Não, não quero generalizar e acredito que haja bastantes excepções. Mas é difícil. Pelo menos para mim, está a ser. Sou uma pessoa mimada pelos meus amigos e pela família, e a falta desse mimo não é fácil de suportar nem me torna numa pessoa melhor.
Mas adiante, que como eu disse antes, este texto é sobre a minha professora de Alemão.
Na primeira aula, gostei imediatamente dela e daquele ar energético e genuinamente feliz, de quem está de bem com a vida. Tem a profissão que eu mais gostaria de ter nesta vida: Dá aulas de Alemão a crianças refugiadas / com dificuldades de inserção social, em processo de integração na Suíça. E fá-lo com o maior amor do mundo, quase como se aquelas crianças lhe pertencessem. É alemã e namora com um suíço, que é, segundo ela, a excepcção à regra. Mas o mais interessante é mesmo a quantidade de coisas que temos em comum, principalmente no que se refere a traços de personalidade: Falamos primeiro, pensamos depois. Adoramos fazer as outras pessoas rir, dizemos disparates a toda a hora. Somos teimosas, marronas, dificilmente admitimos não ter razão. Explodimos com facilidade e demoramos a pedir desculpas. Pomos tudo de nós no muito que fazemos e entramos com tudo, sem pensar de antemão. Odiamos arrogância, falsas modéstias e duplas faces. Adoramos comer e dançar. Frequentemente, não sabemos bem o que queremos, quando queremos. E reagimos da mesma forma às mais variadas situações.
Ao longo de 3 meses de aulas one to one (só eu e ela) fui descobrindo um pouco de mim nela e fui criando a expectativa de uma amizade, já que as aulas de alemão são dos momentos mais descontraídos e divertidos da minha semana e me fazem realmente bem. Se lá chego de mau humor, desfeita em farrapos depois de mais um dia bombástico no escritório, saio bem-disposta e relaxada, com sentimento de dever cumprido e muito mais animada do que quando entrei. Num mix anglo-germânico, falamos sobre tudo e mais alguma coisa e nunca nos calamos, e o melhor de tudo, é que ela entende perfeitamente os meus dilemas, as minhas piadas e as minhas opiniões e não julga, diga eu o que disser, e vice-versa. Isto é o mais próximo de uma saída recorrente de amigas que por aqui encontro. Fazem-me falta estes girl moments, e as girls nights com as minhas queridas portuguesas da área ainda não são tão frequentes quanto gostaria.
Hoje ela sugeriu que fizéssemos qualquer coisa fora das aulas, um cafésinho, levar os namorados a sair, qualquer coisa... E eu fiquei muito feliz. Porque nem todo o dinheiro do mundo paga a ausência de amigos. E quem não os tem, não tem nada.